7 de Dezembro de 2012

Neste dia,  decidimos visitar o MoMA (Museu de Arte Moderna), pois Valéria, a italiana, nos havia dito que na sexta-feira, a partir das 4pm, a entrada é grátis (a entrada normal para adultos custa $25). Saímos e antes de pegar o metrô, passamos por uma mercadinho mexicano que tinha ali perto para comprar algumas coisas. Compramos umas frutas, água e um mix de castanhas. Pelo que vi lá, eles não tem supermercados como temos aqui no Brasil. Ao menos, são poucos e não vimos nenhum  enquanto estivemos por lá. O que predomina são esses mercadinhos, que eles chamam de grocery store. São estabelecimentos com muita pouca variedade particularmente no que se trata de alimentos frescos. Em geral, não se acha mais do que uns cinco tipos de frutas, mais algumas verduras. É muita comida industrializada! Por exemplo, eles tem até bastante água de coco, só que na garrafinha (inclusive uma que é misturada com café expresso[!]). Tem muito também uma bebida de aloe vera (babosa). Para ter uma idéia de como eles tratam a alimentação, até drogaria vende comida. Nas áreas mais ricas, as grocery stores tem uma variedade um pouco mais refinada, mas ainda assim não se compara com os supermercados que temos no Brasil em qualquer canto. Eles justificam isso pela especulação imobiliária, mas, no Brasil, não só temos em áreas menos abastadas, como também nas áreas valorizadas, e por mais que seja um pouco mais difícil ter hipermercados daqueles gigantes em algumas áreas nobres, já são bem maiores do que os que vi aqui em NY.

O mercadinho mexicano, apesar de ser bem simples, se sobressaía dos demais que vi, pois além de ter um ar meio exótico, tinha uma variedade bem maior de produtos frescos a um preço razoável e sem ter de ir a uma zona mais rica da cidade. Lá se podia achar desde coco maduro, até babosa, cactus mexicano, melão, banana, mamão, abacaxi, uva, vários tipos de temperos frescos e outros vegetais, e mesmo cana-de-açúcar! O nome do lugar é Tepeyec Grocery e fica na Lexington Avenue, perto da esquina com a 113th Street.

Chegamos ao Centro bem antes do horário de gratuidade do MoMA, de forma que ficamos dando uns rolés para passar o tempo. Aproveitamos e paramos numas carrocinhas de árabes para comer algo. Pegamos um bolinho salgado de batata, de cujo nome não me recordo, e um saquinho com umas 12 nozes assadas, chamadas chestnuts. Custaram respectivamente $4 e $5. Voltamos ao museu e já havia um filão na calçada. Aproveitei para ir trocar dinheiro e quando voltei a fial Já estava virando duas esquinas! Antes de entrar na área de exposição, ainda enfretamos outra fila para deixar os pertences num guarda-volumes.

Decidimos começar pelo último andar e ir descendo. Lá em cima, havia uma exposição temporária de arte moderna japonesa do pós-guerra bem interessante. Fomos descendo, por entre Picassos, Dalis, Van Goghs, Matisses. Lá estava o clássico O Grito, de Edvard Munch, em mostra temporária até final de Abril de 2013. Para quem quiser, pode-se pagar por um serviço de audioguia.

Saímos do museu e fomos mais uma vez a uma barraquinha árabe na esquina da 6th Avenue  com a 53rd street, onde pegamos um falafel, para recarregar a bateria depois da maratona artística. Custou $4,50. Percebam que aqui basicamente nossa alimentação tem se baseado no podrão árabe (podrão é como chamamos, no Rio, a comida de rua). Comer nos restaurantes é muito caro e as coisas mais baratas são geralmente o fast food mais tosco, tipo hamburger, cachorro quente e batata frita, que tem sido uma das maiores causas de obesidade e problemas cardíacos, particularmente entre as camadas mais pobres. O fast food árabe é o tipo de comida que oferece a melhor relação custo-benefício. Depois descobri que essa barraquinha é meio que um point na cidade, formando, em certos momentos filas enormes só para comer um tal arroz com frango que vem com um molho que é lendário. Quando estava esperando para ser atendido, um cara conversava com uma menina e dizia que tinha se deslocado por vários quarteirões só para comer ali. De fato depois até na internet achei várias referências à barraquinha.

Saímos vagando pela cidade sem muito destino. Não tínhamos um mapa, mas apenas uma vaga idéia de onde algumas coisas se situavam. Pegamos a 5th Avenue e seguimos na direção sul. Passamos pela catedral de Saint Patrick, santo muito tradicional na cultura católica irlandesa, em cuja homenagem, inclusive, se celebra o famoso Saint Patrick`s Day, quando todos saem pelas ruas vestidos de verde e bebendo cerveja, que hoje mais que uma festa religiosa, é uma celebração da origem irlandesa que possui boa parte dos habitantes. A fachada estava em reforma, então não foi possível vê-la, mas o interior não podia esconder o marcante estilo gótico (aliás, neogótico, pois a igreja data apenas de meados do século XIX), que, em minha cabeça, não deixava de destoar da moderna megalópole, apesar de ambos serem frutos da megalomania, cada qual à sua maneira.

Continuamos na trilha dos arranha-céus, que perfuravam a opaca noite novaiorquina. Nos denfrontamos com célebres gigantes, como o Empire State, Chrysler Tower, Rockfeller Center, entre outros. Essa rota de modernidade desembocou diretamente num oceano aberrante, que é a Time Square. Já viu aquelas imagens de satélite da terra à noite, mostrando as áreas iluminadas? Pois é… o foco de maior luminosidade é a região metropolitana de NY. Certamente o núcleo daquela massa de iluminação é essa praça. Quando trabalhava no setor de Meio Ambiente do Ministério Público, aquilo que vi chamaríamos de poluição visual. Lá em casa, chamamos de desperdício de energia. São painéis luminosos a cada centímetro, com todo tipo de anúncio ocupando os prédios de baixo até o  topo. Uma quantidade tal de iluminação que parece até que é de dia se você não tentar achar o céu escuro bem ofuscado lá no alto. Por essa razão, creio que ir lá de dia não teria tanta graça. Me pareceu que, no fundo, aquilo tudo não tinha o objetivo de divulgação de cada marca ali exposta (até porque é tanta marca entulhada que elas perdem o destaque), mas sim da idéia agressiva do capitalismo que não pode parar. Parecia simbolizar o frenesi do célebre lema “time is money”. A impressão que tive é de que tanta luz e atividade concentrada naquele pedaço de cidade tinha como objetivo  mostrar que a roda louca do capitalismo não tem hora pra funcionar e que se, por acaso, mesmo o Sol não entendeu ainda essa máxima, os homens recriam o dia em plena noite para lembrar aos desavisados que tempo é dinheiro.

Caminhamos mais um pouco pela Broadway e conforme iámos nos afastando daquela apoteose do consumismo e do esbanjamento, o ambiente recobrava pouco a pouco sua figura usual, e logo já estávamos novamente envoltos na dura e fria noite novaiorquina. Não demorou muito e fomos tragados pelas entranhas da megalópole em alguma estação de metrô.

2 pensamentos sobre “7 de Dezembro de 2012

  1. Pois é… eles já destruíram a maior parte de suas raízes. Só não conseguimos chegar ao ponto em que estão porque felizmente somos incompetentes no tema, pois tentativas é que não faltaram nesse mais de 500 anos de “civilização” européia…

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